Saltar para menu de navegação principal Saltar para conteúdo principal Saltar para rodapé do site

ROSA DE JERICÓ E O ENVELOPE INSTITUCIONAL

Resumo

Utilizaremos a metáfora da Rosa de Jericó para entrelaçar duas questões que a menina a quem chamaremos Rosa nos apresentou, com invulgar capacidade expressiva e transformativa. De um lado, a capacidade de sobrevivência psíquica (resiliência? competências inatas?) perante um ambiente traumático de violência, abandono, negligência, ruturas e descontinuidades. De outro, a hipótese de que as inúmeras instituições que acolheram este fio de descontinuidade funcionaram como uma pele psíquica (Bick, 1968/1991), um envelope institucional (Houzel, 2010), e como «anjos no quarto do bebé» (Lieberman et al., 2005), que permitiram que Rosa se nutrisse o suficiente para chegar, sem se fraturar psiquicamente, ao acompanhamento psicoterapêutico, também em instituição. Finalmente, foi este que lhe permitiu reintegrar-se progressivamente: voltar ao deserto, atravessá-lo acompanhada, preparar-se para a busca de um terreno-família, onde pudesse finalmente desenvolver-se. Tentaremos ilustrar essa concatenação entre a construção da subjetividade, o papel das instituições de suporte e o trabalho psicoterapêutico em instituição.

Palavras-chave

Abandono, Institucionalização de crianças, Resiliência, Psicanálise, Envelope institucional

PDF

Referências

  1. Aberastury, A. (1982). Psicanálise da Criança: teoria e prática. Artes Médicas.
  2. Bick, E. (1991). A experiência da pele em relações de objeto arcaicas. Em E. B. Spillius, (Ed.), Melanie Klein hoje: desenvolvimentos da teoria e da técnica, vol 1: artigos predominantemente teóricos (pp.194–198). Imago. (Trabalho original publicado em 1968.)
  3. Bion, W. R. (2019). Seminário sobre Negative Capability. Sociedade Brita?nica de Psicanálise. Tradução do áudio: Alle Sturmer (2017). Em A. Chuster e A. Stu?rmer (Eds.), Capacidade Negativa: um caminho em busca de luz. Zagodoni. (Trabalho original de 1977.)
  4. Bion, W. (1988). Uma teoria sobre o processo de pensar. Em Estudos Psicanalíticos Revisados (Second Thoughts) (pp. 101–110). Imago. (Trabalho original publicado em 1967)
  5. Bion, W. R. (1991). Aprender com a experiência. Imago (Trabalho original publicado em 1962)
  6. Bion W. R. (1992). Cogitations. Karnac Books.
  7. Cassorla, R. M. S. (2016). O psicanalista, o teatro dos sonhos e a clínica do enactment. Blucher, Karnac Books.
  8. Cyrulnik, B. (2003). Resiliência: essa inaudita capacidade de construção humana. Instituto Piaget.
  9. Dias, C. A. & Monteiro, J. S. (1989): Eu já posso imaginar que faço. Assírio & Alvim.
  10. Doron, J. (2013). Du Moi-peau à l'enveloppe psychique. Em D. Anzieu et al. (Eds.), Les enveloppes psychiques (3.ª ed, pp.1–17). Dunod.
  11. Faimberg, H. (2005). The telescoping of generations: listening to the narcissistic links between generations. Routledge.
  12. Ferreira, T. (2002). Em defesa da criança: teoria e prática psicanalítica da infa?ncia. Assírio & Alvim.
  13. Fialho, O. (2019). Desenho infantil ? espelho do mundo interno da criança. Colibri.
  14. Fraiberg, S., Adelson, E., Shapiro, V. (1991). Ghosts in the nursery: a Psychoanalytic approach to the problems of impaired infant-mother relationships. Journal of American academy of child psychiatry, 14(3): 387–421.
  15. Freud, A. (1936). The ego and the mechanisms of defense. International Universities Press.
  16. Freud, S. (1969a). O Ego e o Id. Em Edição standard brasileira das obras psicológicas de Sigmund Freud. vol. XIX (pp. 15–80). Imago. (Trabalho original publicado em 1923.)
  17. Freud, S. (1969b). Construções em Análise. Em Edição standard brasileira das obras psicológicas de Sigmund Freud. vol. XXIII (pp.165–174). Imago. (Trabalho original publicado em 1937.)
  18. Hinshelwood, R. D. (2003): O que acontece nos grupos: Psicanálise, o indivíduo e a comunidade. Via Lettera.
  19. Houzel, D. (2010). Le concept d’enveloppe psychique. In Press.
  20. Klein, Melanie. (1923). The development of a child. International Journal of Psychoanalysis, 4, 419–474.
  21. Lieberman, A., Padrón, E., Van Horn, P., Harris, W. (2005). Angels in the nursery: the intergenerational transmission of benevolent parental influences. Infant Mental Health Journal, 26(6), 504–520.
  22. Mahler, M. (1982). O processo de separação-individuação. Artes Médicas. (Obra original em Inglês publicada em 1979.)
  23. Melícias, A. B. (2019a). Comporta-da-mente: do observável ao sentido. Conferência apresentada nas II Jornadas da Unidade de Psicologia Clínica do Centro Universitário de Coimbra, no dia 22.03.2019. Não publicada.
  24. Melícias, A. B. (2019b). Narrativas figuradas: el dibujo en el psicoanálisis con nin?os. Revista de Psicoanálisis de la Asociación Psicoanalítica de Madrid, 34(87), 927–960.
  25. Meltzer D. & Harris, M. (1976). A psychoanalytic model of the child-in-the-family-in-the-community. Em A. Hahn (Ed.), Sincerity: collected papers (pp. 387–454). Karnac Books.
  26. Pérez-Sánchez, A. (1996). Práticas psicoterapéuticas, psicoanálisis aplicado a la asistencia pública. Fundación Vidal i BarraqueRosa
  27. Spitz, R.A. (1945). Hospitalism An Inquiry into the Genesis of Psychiatric Conditions in Early Childhood. Psychoanalytic Study of the Child, 1, 53–74.
  28. Stern, D. N. (1998). The interpersonal world of the infant. Karnac Books.
  29. Stern, D. N. (2006). O momento presente na psicoterapia e na vida de todos os dias. Climepsi.
  30. Winnicott, D. W. (1953): Transitional objects and transitional phenomena. International Journal of Psycho-Analysis, 34(2), 89–97.
  31. Winnicott, D. W. (1990). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Artes Médicas. (Trabalho original publicado em 1965.)